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21/02/2008 - AS VÍTIMAS DAS DROGAS
A estrutura de acolhimento a dependentes é cada vez mais precária no Brasil, o que configura uma falha indesculpável do setor de saúde pública.
Quando mães se vêem obrigadas a chamar a polícia para prender os próprios filhos, na tentativa de mantê-los afastados das drogas, é que a situação atingiu o nível do desespero. Só neste mês, três casos chamaram a atenção no Estado. Em Blumenau, uma moradora do bairro Fortaleza flagrou o filho de 15 anos num ponto de tráfico da cidade usando crack e maconha. Chamou a polícia. Em São José, outra mãe denunciou o filho de 30 anos que não parava de furtar botijões de gás de seu comércio. Ele é viciado em crack. Em Florianópolis, uma mulher foi agredida pelo filho de 22 anos, viciado em crack desde os 13, ao tentar impedir que ele furtasse um aparelho de som. A mãe também chamou a polícia.
Sem ter a quem recorrer, pois os hospitais públicos dispõem de escassas vagas para esses pacientes e praticamente inexistem instituições especializadas ao alcance dos necessitados, só resta às famílias apelar para uma decisão extrema ou ver seus parentes viciados destruírem-se, juntamente com a paz e os bens materiais. Histórias como essas, segundo a polícia, são cada vez mais freqüentes. E denunciam a omissão governamental com as vítimas do flagelo cotidiano provocado por entorpecentes pesados, em especial o crack, considerado hoje a mais devastadora das drogas.
A estrutura de acolhimento a dependentes é cada vez mais precária no Brasil, o que configura uma falha indesculpável do setor de saúde pública. São poucas as instituições para internação de pacientes. Faltam leitos e recursos, há carência de pessoal especializado. Explicita-se nessa realidade a indiferença com a abreviação da adolescência, a mutilação de projetos pessoais, a desagregação de famílias e outros danos não só psíquicos, mas também econômicos e sociais.
Sabe-se que a ameaça das drogas ronda todas as classes, em qualquer país. Não se pode ignorar, no entanto, que é a população de baixa renda a maior prejudicada, por não dispor de vagas na rede pública de hospitais. Resta aos mais pobres o recurso, também escasso, da generosidade de ONGs nem sempre preparadas para a tarefa da recuperação. Repete-se, assim, no caso dos dependentes químicos, como já ocorre com todos os que dispõem apenas da rede de assistência pública de saúde básica, a peregrinação de pessoas muitas vezes em situação de risco.
É enganoso pensar que o descaso dos governos, em todas as esferas, pune apenas os que sucumbiram ao apelo do crack e similares. Também seus familiares, seus amigos e as comunidades em que vivem são atingidos pela omissão governamental, pois as conseqüências do consumo de drogas se multiplicam em todas as áreas, contaminam a convivência em casa, na escola e no trabalho e resultam nas mais variadas formas de desajustes e em criminalidade.
Não há apoio familiar ou comunitário capaz de superar esses dramas sem a participação do setor público, que ignora mais um dos tantos deveres constitucionais desrespeitados no País. A primeira responsabilidade é dos governantes, mas está na hora de todos os setores da sociedade se unirem num mutirão para combater esse inimigo implacável da vida.
Fonte: A NOTÍCIA |