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20/07/2008 - UM PAÍS CORRUPTO. COMO OUTROS
por Apolinário Ternes*.
O espetáculo Daniel Dantas vem colocando as entranhas do País em exibição contínua. Do Executivo, Legislativo e Judiciário. E no mais alto nível. Do Palácio do Planalto ao presidente do Supremo Tribunal Federal (STF). Tudo recheado com escutas, propinas, algemas, milhões, hábeas, tráfico, lavagem, suborno, afastamento, curso e discurso. A semana foi cheia disso e daquilo.
Surpresa? Nenhuma. Desde crianças sabemos que a corrupção é doença que devora a Nação em processo contínuo, e não tão silencioso quanto em países mais civilizados. Cientistas políticos, historiadores, desde os tempos de Capistrano de Abreu a Bolívar Lamounier na semana passada, repetem: somos um país corrupto. E em tempo de crescimento econômico, a corrupção aumenta. Tem sido assim ao longo dos séculos e em todos os cantos do mundo.
Nos Estados Unidos agora mesmo, em decorrência da guerra do Iraque, como nos tempos da lei seca, de Al Capone, da corrida para o Oeste, enfim, ao longo de toda a história daquele grande país. Ainda que, lá, a lei valha mais do que aqui, onde "você sabe com quem está falando?..."
A corrupção "comeu solta" na Itália, no Japão, na Alemanha, logo após a guerra, em tempo de grande crescimento econômico. Ocorre em qualquer lugar onde o crescimento da economia se acelera. No Brasil não foi diferente nos tempos do Império, na República e desde o advento de Brasília, da indústria do automóvel, e agora e sempre nos tempos republicanos, pós-democratização de 1985.
A corrupção "come solta" também na Índia e na China, assim como na Rússia. Os novos milionários se multiplicam nesses países, caídos do céu da noite para o dia. Todos enriquecidos à sombra do Estado. Como no Brasil de nossos dias. São "golpes de sorte", de "visão capitalista" alucinante, em que milhões nada vêem, mas os milionários do "novo capitalismo" conseguem transferir fortunas e negócios públicos para a esfera privada.
Somos um país corrupto, mas que nos sirva de consolo: o mundo também o é. E sempre foi assim, desde os vendilhões do templo. Antes ainda, pois o ilícito e a transgressão são anteriores, que se relembre a lenda do Éden, da maçã e do pecado.
Transgredir é da sina do homem. Querer um pouco mais, lembra Shakespeare, tem sido a tragédia do homem. O capitalismo funciona como estimulante para a corrupção. Sempre que os países promovem um salto de crescimento, cresce a corrupção. O ser humano quer "melhorar de vida". Um carro novo. A reforma na casa, "ter situação melhor do que a do pai", como explica Lamounier. Como aqui as leis são frouxas e, invariavelmente, "para trouxas", explica-se o alto grau de anarquia em que vivemos. Tudo acontece à revelia da lei.
O Exército é mandado cuidar da favela, soldados fazem o que fizeram no Rio e acabam presos. Nenhum oficial responde a coisa nenhuma. O ministro da Defesa se mantém no cargo. A polícia mata civis por engano. Pede desculpas, e nenhum comandante perde o cargo. Governadores fazem o diabo: passeiam na Europa com a sogra, contratam parentes, dispensam licitação, transformam hospitais em lixeiras - como no Pará - e nada acontece. Ou, então, como Requião, do Paraná, que nomeia irmão para cargo vitalício no Tribunal de Contas (R$ 22 mil mensais). Ou, ainda, como Sérgio Cabral, do Rio, que se exibe na televisão em indignação simulada. E nada acontece. O brasileiro aceita.
O caos no Brasil de nossos dias se agiganta porque o setor público chegou a níveis estarrecedores de ineficiência e paralisia. Não só a área da saúde emperrou de vez, também a da segurança está à beira do colapso, como mostram os fatos. No setor de infra-estrutura, o País não suporta três anos de crescimento. Portos, estradas, energia elétrica, quase tudo pode descarrilar se não se fizer investimento imediato. E, ainda assim, o que se vê é o Estado gastando de forma inadequada. Mantendo a carga tributária em 38% do PIB e não realizando as reformas capazes de modernizar o País. O Brasil desperdiça novo ciclo de prosperidade, sob um governo inconseqüente, como "nunca antes neste país".
( aternes@terra.com.br )
* Historiador e jornalista
Fonte: A NOTÍCIA |