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22/03/2007 - MEMÓRIA DE UMA FRAUDE
Ao tempo em que era presidente da República, o atual senador Fernando Collor de Mello (PTB-AL) usava com freqüência uma frase que acabou se transformando numa de suas marcas registradas: a de que "o tempo é o senhor da razão".
Pois o tempo que se seguiu à sua renúncia à chefia da nação há 15 anos, em meio a um processo político que se encaminhava para decretar seu impeachment, não desmentiu a frase do atual senador e ex-presidente.
O tempo apenas confirmou que o processo político era
necessário, que suas razões eram adequadas e que o desfecho ajudou o Brasil a ingressar numa era de preocupação com a ética pública. Por isso, além de ser chocante para o país, a aliança surpreendente e espúria entre o senador Fernando Collor, agora integrante de um partido da base aliada, e o atual presidente, aliança solidificada no encontro de ontem no Palácio do Planalto, por mais que faça parte de um projeto pessoal de resgate da trajetória política, não pode servir de escada para uma tentativa de apagar a história recente do país.
O processo de impeachment de Collor não foi uma farsa, como ele sugere, respaldado pelos votos que o levaram de volta ao Senado. Foi o desfecho de um episódio amargo para os brasileiros. Foi deprimente e revoltante para o país ver o homem que prometera modernizá-lo envolvido com um esquema de falcatruas.
O governo Collor sim é que acabou se constituindo num blefe para os milhões de brasileiros que acreditaram em suas promessas e foram frustrados pelas evidências de uma fraude.
A volta do ex-presidente ao cenário nacional, passado o período em que permaneceu inelegível, precisa ser vista e aceita como um retorno decidido livre e democraticamente pelo povo de Alagoas.
Nem esse fato, nem a absolvição decidida pelo Supremo Tribunal Federal, nem o tempo de três lustros decorrido desde a renúncia apagam, no entanto, a verdade histórica de um governo que, iniciado sob o aplauso das urnas, foi se degradando e submergindo no compadrio e na corrupção.
O tempo, senhor da razão, não pode ser utilizado para apagar um momento histórico no qual o país, como quase nunca, conseguiu unir-se num mutirão de patriotismo e de defesa da moralidade pública.
O Brasil e os brasileiros não podem, é verdade, transformar a política num processo de eterno revanchismo e de penas perpétuas.
Mas também não é lícito que, a partir do esquecimento ou da tolerância, se reescreva a história para, em vez da verdade, entronizar uma fraude.
Fonte: DC |