Confira o último artigo cadastrado:
16/07/2007 - A HORA CERTA...
Miro Hildebrando
Doutor em Economia/vbrando@uniplac.net
Alguns vão lembrar de quando, algum tempo atrás, a demanda reprimida por automóveis chegou a atingir 200 mil unidades. Ou se pagava algo por fora ou não se conseguia nada. Pensava-se em automóveis como uma reserva de valor, em meio à assombrosa elevação dos preços da época.
A reação da equipe econômica de plantão sempre foi a de punir o consumidor – ora com redução do prazo de financiamento, ora com um imposto adicional ou aumento dos juros – , e o consumidor, sem poder importar, tinha de se contentar com filas, ágio e a até mesmo a impaciência dos vendedores. O consumidor era considerado culpado, na época, por gerar a temível inflação de demanda, e sentia-se como um criminoso ao tentar comprar um automóvel zero quilômetro. Maus tempos aqueles...
Agora, temos exatamente o contrário: novas indústrias se instalaram no País e podemos importar automóveis do Mercosul e outros lugares com uma alíquota decente. Pela primeira vez na história automobilística deste País, a produção anual poderá atingir 2,9 milhões de veículos. Mas, os prazos de entrega estão chegando aos 90 dias nas revendas e mesmo que não haja vestígios de sobrepreço, os consumidores começam a se aborrecer. Então, o que está acontecendo? Voltamos aos velhos tempos?
Não exatamente. O País utiliza muito pouco o crédito bancário, por razões evidentes. A soma do crédito total em relação ao PIB mostra que utilizamos menos que 50% do que é emprestado pelos bancos em países desenvolvidos e emergentes - e temos agora uma expansão moderada do crédito. Facilidades de prazo e juros um pouco mais baixos (leia-se menos extorsivos) estimulam as pessoas ao financiamento.
Um crescimento moderado da renda pessoal, a necessidade de renovar a frota que já atingiu a meia idade, e pronto: temos o cenário perfeito para o descompasso entre a oferta e a procura, gerando o desequilíbrio que puxa preços para cima.
Mas, elevar preços pode afugentar o consumidor e atrair a atenção de novos fabricantes. A China, após ter adquirido a área de computadores pessoais da IBM poucos anos atrás, ultrapassou a fase da simples imitação industrial e está entrando em todos os mercados, de calçados, brinquedos, satélites e computadores, e deve se instalar no Sul do continente com uma fábrica de automóveis, possivelmente no Uruguai. O principal mercado do continente está amadurecendo para os veículos chineses e a hora certa para sua entrada está chegando. Seus automóveis, razoavelmente confiáveis, têm preços atraentes entre 8 a 10 mil dólares. Quem vai resistir?
Dentro do seu papel clássico de regulador da economia, cabe ao governo agir com bom senso e estimular a importação e novos investimentos, aproveitando a taxa de câmbio transitoriamente favorável. Talvez atrapalhar menos e gerar condições de aumento do emprego setorial, que afeta, em todos os seus níveis, cerca de 15 milhões de brasileiros, e, assim, satisfazer aos apetites da demanda.
Fazer o contrário e repetir os gestos do passado é uma burrice exemplar, como diria Nelson Rodrigues, e provocaria uma cadeia de frustrações e distorções econômicas. A não ser que o governo, maquiavelicamente, avalie que o crescimento exponencial de suas falhas operacionais e orifícios na malha asfáltica sejam, em termos absolutos, substancialmente maiores que o crescimento da demanda por veículos de todos os tipos. Em outras palavras, que não haverá ruas e estradas para todo mundo. Nesse caso, acontecendo o pior, o melhor mesmo é reformar o fusquinha.
Fonte: A NOTÍCIA |